terça-feira, 4 de setembro de 2012

A Crônica do Meu Querido Diário de Uma Crônica Segunda-Feira



Querido Diário,

Acredito que poucas pessoas cheguem até aqui, então, faço-me de ator e plateia, demonstrando o quão iguais são estes parágrafos letrados à vida existente. Veja só, muitos leem apenas o inicio de um texto, assim como muitos desfalecem cedo da tal existência. Muitos vão até o meio sorrateiramente, e, consequentemente, levam a vida pelos mesmos meios. Outros poucos, leem tudo de uma maneira eficiente transpondo assim a sua existência real.

Mas, diga-se de passagem, isso não importa.

Eu, como alguns, acordo cedo com um apito de um trem, como se estivesse a se chocar com minha mente, corpo e alma, 05:45, o galo acorda e o trabalhador junto. Às 06:00 é hora de partir, mas o mesmo trem que me acordou não está me esperando, sendo assim, vou ao seu encontro caminhando, semanalmente e matinalmente, onde desembarco de minhas próprias pernas para entrar em um vagão sujo, imundo e sufocante chamado ônibus.

Para ter mais exatidão, estamos em 2012, Sobradinho, Brasília, Brasil, América do Sul e por aí vai.

O seu tempo é lógico e bastardo, são 40 minutos até a capital, sonho, isso sim seria um sonho. Mas o verdadeiro pesadelo estava por começar, chamam de trânsito, neste mundo. Os veículos param, brigam, rosnam, ultrapassam, animais ferozes em estradas feitas para brigarem, um verdadeiro “ring” de luta livre, de pesos penas a pesos pesados, motos, caminhões, de tudo um pouco, essa luta é feroz, tanto fora, quanto dentro.

De repente, ao relinchar do sujismundo, um peso pesado contra outro peso pesado se chocam, batendo a traseira no vidro frontal e cacos por todos os lados.

Quem teve a ideia absurda de renovar o “ring” em plena campanha eleitoral e nos horários da luta. Uau! Quanta tolice, assim o espetáculo estava completo, agora está claro.

A plateia estava presente e todos viram o pequeno impacto surge, talvez, profundamente falando, para acordar aqueles que não pensam. E afinal, quem consegue pensar com tanto sufoco ao mesmo tempo?

Não há espaço, não há tempo, não há união. Por outro lado, sobram ataques, humilhações e ofensas.

Mas, está tudo bem, todos descem e vão à outra parada, porque a parada tem um nome significante para os que ali aguardam o caixote pesado com rodas.

Às 6:55 vem outra caixa, mas não nocauteada, nova, vinda de outros cantos, pertos, mas também desiguais. Subam todos que já estamos partindo, diz no filme, mas neste mundo paralelo, estamos partindo antes que subam.

Novamente estamos exprimidos/oprimidos, eles são inteligentes, nós não. Há algo errado, mas não eu. Eu apenas trabalho e estudo para ser alguém no futuro, levando em media 10 anos para dobrar o meu dinheiro e ter um caixote mais confortável, com rodas melhores e sem ninguém para se espremer em mim, pois mais parece um ataque sexual rotineiro.

Como sou egoísta! Eu não pensava assim 10 anos atrás. Acho que esse caixote não me faz bem. Mas, não estou errado, quem está errado é o governo e vou falar mal dele até um dia ele me escutar.

Vou dizer que o governo é corrupto e que rouba o meu dinheiro e que eu sou certo, trabalho, estudo e falo mal do governo.

Mas isso também não importa.

Ele segue o seu caminho, assim como eu estou apenas seguindo o meu, ele não tem culpa, assim como eu também não tenho. Então a culpa é de quem? Não sei, não quero saber e não tenho raiva de quem sabe. Está bem, chega de sarcasmo e ironia, tenho um sentimento estranho por esse caixote com rodas

Alguém é mais inteligente do que a gente e será que ninguém vê? Trapaça pode não ter graça, mas para quem tem o tic tic, meu bem, é uma desgraça.

Esse é o meu mundo suburbano sem flores. Que mundinho paralelo e cinza esse, não? Sim.

Bom, na verdade, nada disso importa.

E apesar de tudo isso tomar cerca de 70% do meu tempo há algo bem melhor por de trás disso tudo. É eu ter a certeza que no meu jardim existem belas flores e especificamente há uma flor indescritível que me faz bem e que me deixa muito feliz. E só de saber que meu jardim está longe desse “ring suburbano medíocre e cafajeste” fico mais contente ainda.

A minha flor está quase sempre em casa e o seu sorriso me ilumina para enfrentar o outro dia, e que dia. Ufa! Essa caixa ainda me mata.

Há ainda muita história para contar, mas os meus 30% de tempo esgotam-se logo mais e estou sem minha flor aqui para me apoiar. Ah, mas eles ainda me pagam.



Bruno Costa
03/09/2012

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